Preservação, Cultura e Turismo: Um dever Coletivo

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A Secretaria de Cultura do município recebeu, dias atrás, ofício do Departamento do Patrimônio Artístico, Histórico e Cultural (DEPAHC), informando que foi indeferido o processo de tombamento do casarão vizinho à Praça do Pescador. O prédio, embora construído em 1875, não preenche os requisitos para o tombamento estadual, tais foram as intervenções inadequadas, agravadas pela remoção dos azulejos do século XIX. Por sorte, estão ainda no lugar os peitoris das janelas, confeccionados em ferro fundido bordado, provavelmente de origem europeia. O indeferimento, entretanto, não dará direito aos proprietários de demolirem o prédio.
A Secretaria de Estado de Cultura (Secult) publicou no Instagram informações sobre Vigia e recomendou visita turística. No DEPAHC, órgão da mesma secretaria, caminha um processo de tombamento do museu.
São atenções que valorizam nossa história e estimulam o turismo. Mas chamam atenção para o compromisso que devemos ter para com o patrimônio histórico do município. Um exemplo é o Museu de Vigia. Deveria estar preservado. A luta já está sendo grande para se restaurar adequadamente esse patrimônio. Obra bem onerosa para os cofres parcos do município.
O calor do projeto de restauro em andamento aquece a memória histórica, que carece de patrimônios materiais e não somente da crônica popular que embala o amor próprio e o senso de pertencimento ao lugar onde nascemos e vivemos. E se o patrimônio está estragado, detonado, não importa o que fizeram no passado, mas sim o presente.
Relembrar fatos históricos, renovar a memória e considerar os valores culturais pressupõe preservar, cuidar, proteger. Casarões revestidos de azulejo português são patrimônios indescartáveis da paisagem urbana de qualquer cidade.
Precisamos compreender o significado cultural de uma fachada de casa antiga, com ou sem azulejo, não por ter, a propriedade, abrigado uma família ou algo ali tenha acontecido. Moradias – castelos, palacetes ou sobradinhos – contam histórias, preservam memórias e realimentam narrativas que reportam épocas, costumes, tradições e até leis.
Compreender isso não é fácil. E o governo, nos três níveis, têm responsabilidades legais, assim como todo cidadão é também responsável. Em Vigia, onde falamos tanto de história, arte e cultura, preservar patrimônios arquitetônicos (não somente as duas igrejas) deve ser um compromisso coletivo.
A comunidade, lideranças políticas e as entidades precisam estar alertas para não se permitir continuar a sanha demolidora que destruiu, nos anos da década de 1970, o casarão ao lado da igreja, que até 1759 serviu de residência aos jesuítas – casa tão antiga quanto a igreja matriz.
Muitas propriedades vieram abaixo, nas últimas décadas, sem que se reagisse contra. Independentemente de a Secretaria de Cultura se equipar com organismos próprios de proteção e preservação, a comunidade tem que impedir novas demolições e construções inadequadas (e até ilegais) que prejudiquem a estética urbana.
A cidade precisa de “conforto”. Despoluir fachadas e artérias públicas é fundamental, assim como é necessário sanear a paisagem da orla. Cada vez mais, urbanistas dão valor e importância a lugares que têm um litoral como o de Vigia; beira de rio enseja soluções de estética urbana confortável. Viram atração turística, vejamos a Estação das Docas, em Belém, e o Porto Madero, em Buenos Aires, que inspirou Belém.
Se não se pode fazer coisa sofisticada, o simples também resolve problemas urbanos como o de Vigia. O Guajará Mirim tem virtudes para além da paisagem: é uma relação que impacta toda a cidade; tem conexão direta com a história, a cultura e o turismo. Cuidar desse conjunto de “vantagens turísticas competitivas” é um compromisso coletivo e não só do poder público.

Por Nélio Palheta

Nélio Palheta é jornalista e Secretário Municipal de Cultura e Turismo de Vigia de Nazaré.

Veja no Instagram da Secult: https://www.instagram.com/p/CR7ZauANEVo/?utm_medium=copy_lin

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