Por que eu Gosto de Banda de Música?

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Fui a Porto Salvo, no Dia de Natal, ver a banda tocar. Foi por gostar de banda de música, e ser secretário de Cultura do município, representando o prefeito Job Júnior no concerto de 96 anos da “25 de Dezembro” – agora chamada de “Som 25”.

Tudo muito simples, sem luzes especiais e cenário eletrônico, na sede humilde da Sociedade Musical Portosalvense. A simplicidade que, entretanto, não esconde criatividade, esforço, vontade de fazer apesar das adversidades. Na plateia, cerca de trinta moradores do distrito que tem história: em Porto Salvo, quando o lugar ainda era habitado por índios e se chamava Mamayacu, no século XVIII, a Companhia de Jesus instalou uma “colônia de férias” de seminaristas e padres jesuítas do Colégio de Belém.

Antes de existir a “25 de Dezembro”, Porto Salvo tinha duas bandas; faliram, mas deixaram as sementes musicais, até hoje germinando como patrimônio cultural pertencente a todos; os jovens, principalmente, devem tê-las não só como memória, mas também como plataforma história de conhecimento, convivência cultural, lugar de aprendizado e criação artística do passado inspirando o presente.

Eu gosto de banda de música como gosto das igrejas e da história da Vigia e seus personagens. Para que não se tenha dúvida, gosto como autêntico vigiense – não por estar, agora, no papel de Secretário de Cultura do Município, mas por fruição cultural. Minha convicção de cidadão aponta a necessidade de se preservar as narrativas, acervos do patrimônio histórico; as tradições e a arte como fontes de sabedoria e conhecimentos
transcendentais. Se eu não pensasse assim, reduziria meu fazer a um bairrismo exacerbado e inócuo, frívolo até – não raro ufanista. Não sou nem ufanista nem bairrista, mas vigiense que vê no passado a fonte de uma riqueza que deve alimentar a cultura como eixo de progresso social presente, com ações concretas e duradouras. O passado que só serve ao usufruto imediato não tem utilidade.

Parafraseando a TV Globo: se Cultura é pop, é substância necessária do progresso social. A cultura não pode se reduzir às efemeridades. Sem compreender isso, não se constrói esse progresso. Fiquei Feliz com o concerto em Porto Salvo. Ali, vi essa lógica ao ouvir a presidente da Sociedade, Janete de Souza Duarte, e o regente Marcos Duarte, anunciaram que a entidade tem planos para atrair, a partir de 2022, crianças para a escola da banda. Um projeto louvável, com causa e razão: os jovens da comunidade estão se afastando da banda. A ausência prolongada deles pode matá-la. Pôr crianças na escola de música é uma louvável estratégia para fomentar novas gerações de músicos, sendo perfeita percepção do papel social da banda. “Em Porto Salvo, crianças e jovens não têm opção de inserção social; vivem nas esquinas, com celular na mão, aprendendo imagina-se o que…” – disse mais a presidente, que idealiza uma rede de apoiadores locais à banda, mediante a contribuição anual de 120 reais, parcelado em 12 de 10. Um valor simbólico diante do projeto: “Cada colaborador vai garantir uma criança a mais na escolinha da banda”.

Quem se habilita a apoiar esse belo trabalho, para além do bairrismo e do ufanismo, recheando o gesto de civilidade, compromisso social, pertencimento ao lugar e compromisso com a cultura?

P.S. Por essas e outras, a Banda “Som 25” aprovou um projeto, com direito ao prêmio da Lei Aldir Blanc, para incrementar a formação dos músicos e promover entretenimento de qualidade para a população. Mas o prêmio é insuficiente. Tomara que dentro de mais quatro anos, se comemore o centenário com uma festa igualmente simples, porém grandiosa. Viva a banda do Porto Salvo!

Por Nélio Palheta é jornalista, escritor e Secretário de Cultura de Vigia de Nazaré.

 

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