Por Nélio Palheta
Com o apoio da Prefeitura, mediante convênio com a Paróquia, mais uma Festividade do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, celebrada na Vigia, neste mês de setembro, encerrou-se no domingo (19), com uma performance bem diferente da secular festa
No formato adequado à pandemia, que incluiu carreatas de até quase 50 quilômetros (o Círio, a rigor, percorreu o trecho entre a localidade de Penhalonga e a sede municipal), uma semana antes, a festa acabou com grande
número de devotos em frente à matriz, na tarde do domingo. Foi apenas uma semana de celebração religiosa, ao contrário da tradição de uma quinzena
A missa de encerramento foi ao ar livre, tendo a solene igreja da Mãe de Deus como cenário. A luz dourada do pôr do sol, e o céu azul limpo completaram o ambiente de louvor à Virgem de Nazaré, destacando a própria igreja portentosa
Em Vigia, a devoção começou há 324 anos com romarias e ladainhas, quando a localidade ao sul da Baía do Marajó começava a ser colonizada por portugueses. O registro sobre as origens da devoção está na “Crônica dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão”, escrita pelo jesuíta João Bettendorff, – alemão que foi superior da Companhia em Belém, no século XVIII, fundador de Santarém, e que teve também a missão de ser o “cronista” dos inacianos. àquela época. A obra de Bettendorff foi publicada somente em 1910, reproduzida pelo governo do Pará em 1990 e reeditada recentemente pelo Senado Federal
Bettendorff registra que tomou conhecimento, por intermédio do Padre José Ferreira -que de passagem para Marapanim parou na Vigia – de que na Vigia havia uma “imagem milagrosa” de Nossa Senhora de Nazaré, e que ocorriam romarias e novenas. Era 1693 Alguma dúvida de que a origem da devoção nazarena no Pará, é na Vigia?
Não se fala em Círio na crônica de Bettendorff, mas em “devoção”. Entretanto, ratifique-se: historicamente, é justo ao se promover o Círio, com o formato secular que se conhecia até antes da pandemia, atribuirmos as origens da festividade aos católicos da Vigia, ainda que colonos portugueses, devotos da Virgem. E, no mais, os marinheiros, antes de atravessar o Atlântico, iam à Freguesia de Nazaré invocar a proteção de Nossa Senhora de Nazaré, para então enfrentarem o Mar Tenebroso; e entronizavam nas embarcações, imagens de Nossa Senhora. Na versão do “milagre do achado”, alguma dessas imagens pode ter “desembarcado” em terras paraenses, e uma virou objeto da lenda. Em Belém ou na Vigia? Eis um mistério a ser desvendado!
Embora com a metade do tempo tradicional da celebração, o Círio deste ano inscreveu-se na história como uma romaria de automóveis, motocicletas, bicicletas e muita gente nas ruas, apesar da aglomeração proibida pelas normas sanitárias
A missa campal deste domingo refletiu, mais uma vez, a vontade do povo católico de retomar a tradição e a história. No próximo ano, espera- como diz a canção, espera-se o “Círio, outra vez”, conforme a tradição
Nélio Palheta é jornalista e Secretário Municipal de Cultura