Não se encontram nas Escrituras descrições da imagem de Jesus Cristo. Muito menos do próprio Deus Pai. Mas, os artistas de todos os tempos, principalmente os pintores e escultores, encarregaram-se de mostrar ao mundo a face do Filho de Deus.
Ao montarmos em Vigia a Exposição “Obras da Paixão”, para celebrar a Semana Santa “culturalmente” – com pinturas e canto gregoriano -, fazemos essa reflexão, entendendo-se, independentemente de orientação religiosa, que a arte é um “dom divino”.
É isso que você encontra no o artigo “Imagens do Mistério e da Paixão”. A exposição abre neste sábado, dia 9 de abril, e em se encerrará no dia 7 de maio.
“Tu não podes ver o meu rosto: pois ninguém me verá e viverá”
( Êxodo 33:20); e no Evangelho se lê: “Nenhum homem viu a Deus a qualquer
momento”. (João 1:18)
É impossível descartar fé e religiosidade ao se focar a arte como um dom. Logo em Gênesis (1:1) vemos a Criação como arte. O belo. Em tudo se vê o dedo criativo de Deus: “No princípio criou Deus o Céu e a Terra”. E tudo, dia a dia, ele viu que era bom: água, terra, animais, vegetais. E a luz. O homem e a mulher. “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis (…). Tudo foi criado por Ele e para Ele.” (Colossenses 1:17).
O verbo central do versículo de Gênesis é “criar”. Se Deus tivesse dito “Crie-se” em vez de “Faça-se”, o sentido seria o mesmo. Se a virtude da criação é dada por Deus, a arte vem Dele próprio – por excelência e natureza, “O Criador do Céu e da Terra”. Sem sacrilégio, “um artista”!
A concepção de Deus no Antigo Testamento torna-O “distante”. “O Inacessível” (adjetivos meus). Mesmo que isso se apresente também no Evangelho de João (1:18), haveremos de “encontrá-Lo face a face” no próprio Cristo, porém, ainda que o evangelista tenha afirmado: “Ninguém jamais viu a Deus”. “E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele.” (Colossenses 1:16).
Se a Ele não se conhece por imagem, conhece-se por Palavra do Unigênito – Jesus Cristo, o próprio Deus. A Palavra (em João) parece clara ao trazer ao homem o esclarecimento de que o Pai invisível se fez humano no Filho. E essa é a novidade (parte do Mistério): o Filho Único de Deus é o próprio Deus que, assim, deu ao homem a oportunidade de conhecê-Lo.
Conhecer Deus é maravilhosa experiência humana; prazerosa aventura (caminho) que se encontra na própria Palavra, que é luz: “Quem me segue não anda em treva (João 8:12). “São Palavras de Cristo, com as quais se adverte que imitemos sua vida e costumes, se quisermos verdadeiramente ser esclarecidos e livres de toda a cegueira do coração” (excerto atribuído a Tomás de Kempis, monge e escritor alemão [1830-1471] em “Imitação de Cristo”).
O ponto que nos traz a esse tema é a aventura da própria experiência do dom da criação – da arte que explora o belo como dom e luz emanados pelo Espírito Paráclito. Não faltam pinturas, esculturas, romances, poesias, gravuras, monumentos retratando o Filho de Deus, cuja história culmina na Paixão e Morte – “morte de cruz”. A música serve, por assim dizer, para ampliar a adoração, e isso é por Deus apreciado.
A profusão de imagens de Cristo parece uma teimosia humana diante do próprio Mistério da vida e da morte. Mas, que efeito teria para o Cristão desvendar a face de Deus Pai?
Nesta Semana Santa, em Vigia de Nazaré, essa experiência de buscar, criar, difundir o retrato de Cristo revela se magnífica com a exposição pública que chamamos “Obras da Paixão”. Entendemos que as criações expostas respondem à misteriosa vontade humana de se ver Deus – como se fosse insuficiente ao coração do homem conhecê-Lo pela Palavra, pelas virtudes do “bem maior” – o amor.
A exposição “Obras da Paixão” não é veneração, nem adoração. É uma leitura artística das imagens de Cristo e de sua Mãe diante da dor. Ainda assim, não se despreza a doutrina Cristã que valoriza as representações imagéticas de Jesus Cristo como representação da culminância do Plano de Deus para os Homens. Imagens que brotam das mãos de artistas como legítima expressão de fé; crença em Deus dividida com quem aprecia as obras.
Nenhuma outra figura da história é – passados mais de dois milênios – tão reproduzida e estudada quanto a de Jesus Cristo. A mostra das pinturas pareceria comum se, com outro olhar, não se encontrassem, nas imagens plangentes, a beleza da Paixão e do próprio Mistério. Nele incluída a Mãe na cena – denominada “Mater Dolorosa”, que artistas de todos os tempos também a retratam com a mais perfeita beleza, presente na compaixão, obediência e no sofrimento. A Paixão do Filho (fato contínuo do Cristianismo), um paradoxo: amor e dor do Cristo no calvário ensinando o homem a manter no coração a vontade de conhecer Deus como exercício permanente da exigência da Salvação.
J. Nélio Palheta
Secretário Municipal de Cultura e Turismo